quarta-feira, 12 de julho de 2006

A primeira parte de uma história sem continuação...

Se aquele menino soubesse a sorte que lhe aguardava, com certeza não teria se escondido. Todos tentaram alertá-lo, mas o pobre rapaz teimou em não dar ouvidos...Atitude até esperada, para um juvenil sobrevivente de guerra.

O tempo necessário para curar as cicatrizes foi, sem dúvida, muito menor que o tempo gasto para conseguir olhar as pessoas nos olhos novamente....Uns dizem que é a vergonha pela batalha perdida, já outros, dizem que é a raiva, consequencia da solidão que lhe foi imposta.

Hoje a sorte do rapaz bateu a minha porta, logo pela manha. Ainda atordoado pelo porre de ontem a noite, demorei para compreender o que estava realmente acontecendo. Entre goles frios de café, sem açúcar, e cinzas do cigarro amassado que caíam sobre a mesa, a conversa tomou um rumo diferente.

A sorte, aos prantos, buscava afago em meu ombro, e eu nada lhe ofereci em troca, a não ser outra xícara do maldito café. Uma sensação de impotência me consumiu completamente, por não poder colaborar de forma alguma com aquele curioso ser...

Consultei brevemente o meu histórico de aprendizado e constatei que nunca ninguém me ensinou a guiar a sorte de outras pessoas....E eu realmente tentei explicar isso à pequena....Mas assim como o seu destinatário, ela não me deu ouvidos.

Compromissos de terno e hora marcada me aguardavam, por isso, não restou outra solução a não ser abrir a porta, e pedir por sua partida. Já que seu telefone estava pendurado em minha geladeira, poderia contactá-la quando tivesse qualquer nova informação.

Alguns dias se passaram, mesmo com o relógio teimando em não correr, porém nenhuma pista do menino...A sorte também não me procurou....E toda esta situação me fazia pensar cada vez mais e mais...

Ainda não descobri se o início de tudo isso foi a cabeça dura, ou o coração vazio, mas de forma avassaladora evoluiu neste quarto fechado uma admiração, sem um porque, um encantamento, vago, porém sincero. A mais bela duvida que pairou sobre estes ares carregados...

A melodia que ele adorava não sai da minha cabeça, assim como o sorriso dela.....O sorriso dela ao olhar para ele...Por alguns instantes consegui suspirar imaginando um punho de areia, algumas flores ao vento, a sorte e o seu cheiro....duas mãos dadas...

Mas nunca conseguirei terminar o conto se o menino não voltar....para seguir o seu destino....assumir o seu lugar, e carregar sua nova cruz...Por isso vou partir, atrás do menino, e esperar que em algum lugar desta jornada, a sorte me encontre...

2 comentários:

Nívea Biazotto disse...

É realmente irritante não fazer muita diferença na sorte alheia. Porque no dia seguinte a menina e o menino acordam e tudo se inicia num vento diferente. Pra onde será que o barco vai ser soprado??? E não há outra alternativa pra nós. Meros expectadores da mesa do bar com o copo e os pensamentos.

Bjooo :*

carolina jornalista disse...

Esse é o melhor texto que você escreveu, li todos, mas gostei mais desse, fui passando devagar e rápido por todas essas frases, mas esse texto foi o único que me deu vontade de ler do início ao fim... Vc é o contrário de mim e te invejo por isso... Hj me deu vontade de conversar mais contigo Vitão...
Bjosss...continue escrevendo