terça-feira, 27 de maio de 2008

Urgente!

Este blog completa uma semana sem ingerir bebidas alcoolicas. Comemore você também!

Renoir

Renoir. É este o nome que visualizou no letreiro ao ter a porta de seu carro aberta pelo Vallet. Os primeiros passos, ainda desalinhados, representavam a pressa que não tinha, enquanto as mãos passavam a camisa e o olhar perdido procurava por abrigo, que o poupasse da garoa. O relógio fora consultado de minuto a minuto, enquanto a cabeça o lembrava que hora não tinha. A hora estava feita, lá.

As lembranças daqueles muitos meses, que completaram num piscar de olhos poucos anos, o faziam acender um cigarro atrás do outro, como necessidade, não vício, para quem estava prestes a adentrar o recinto. Naquela noite fria de São Paulo, preto era o tom das mulheres, e todas o faziam lembrar de quem ainda era a sua dama, que de preto fazia o universo parar.

Quando o papo furado com a hostess se deu por encerrado, eis que ao primeiro saguão, o bar, ele se dirigiu. Nada de uísque, sem motivos, sem mesmo saber que se anunciava uma noite de mudanças, apenas goles amargos de um bom e velho vinho seco e umas beliscadas em pastas no pão-italiano.

Coragem não lhe faltava, pois aprendera desde pequeno que medo não era a maior fraqueza de um homem, pois homens não tinham medo. Como nem todas as lições foram absorvidas com o passar dos anos, lá se foi. Rumo à mesa 23, previamente reservada. Para seu espanto, nada lá havia, mas sentou-se mesmo assim.


Nos mesmos segundos que gastou para procurar um número em seu aparelho celular, foi abordado por outra gentil funcionária do local. “Senhor, se não for incomodá-lo, poderia me acompanhar um instante”, interpelou.

E atrás daquela bela e educada estranha foi até a porta da cozinha, para ouvir, sem rodeios, que a pessoa que o aguardara por cerca de duas horas naquela mesa havia ido embora, exaltada, mas não antes de providenciar que um bilhete fosse entregue nas mãos de quem se atrasara. Gentilmente agradeceu, mas antes mesmo de abri-lo, pegou seu carro e foi para o velho bar de todos os dias.


Com o bilhete no bolso do casaco, não hesitou em engolir todas as doses de uísque que não foram tomadas em sua vida até aquele momento. No meio desta viagem, teve tempo até para conseguir o telefone de uma rapariga que dançava oferecidamente mesas à frente.

De volta à sua velha rotina, com o prêmio de ter conseguido retornar sozinho à porta do elevador de serviços de seu condomínio, lembrou-se do bilhete que havia recebido horas atrás. Mas mesmo com a certeza de quem havia escrito e do que se tratava, apenas para remoer um pouco mais aquele monstro que o angustiava e que, por sinal, ele mesmo havia criado, resolveu abri-lo.

- Por estas e muitas outras é que estou com ele. Se tiver a capacidade de ler este bilhete enquanto estiver sóbrio, me ligue.